As cidades nunca dormem

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A sinfonia das luzes
Mantém-me acordado a olhar o mundo
Não sei quem é o maestro-mudo
E não creio ser o pendurado nas cruzes
Só cego-me com sua beleza
Alegre as olhando com firmeza
 
Essas noites de poesia
Arguile, álcool, enfim, boemia
Remetem-me ao antigo e ao novo
 
Lembram-me da fumaça subindo
Meus batimentos a sumir
A vida só se esvaindo
Quando eu deitava pra dormir
 
Comparam o calor interessante
Sentido por mim nesse instante
Ao carvão ardente
Trazido de novo a minha mente
 
Agora olho Paulista afora
Doendo-me todo com o simples agora
Que recebo penetrado pelo luar
 
A sincronia das luzes
Tira-me a energia num piscar monótono
Eletricamente, mas falhando às vezes
Sei que essa bobagem já não tem dono
Fecho meus olhos, já sem paciência
Irritado as privo, afinal, da minha humilde audiência
 
A madrugada de pesadelo
Sem sono, olhando o vazio
Me encolho todo, sentindo o frio
 
O clima está agradável
Mas o gelo domina a alma
É só lembrança impecável
Do momento em que me rendi à calma
 
Momentos inexplicáveis, estranhos
Repensados em conversas e banhos
Só mais um reflexo do mundo normal
Chato e cinzento, enfim, sem sal
 
Continuo nele, estranhamente
Vivendo no mesmo contingente
Em que parei anos atrás
 
A sintonia das luzes
Mata minha esperança num ligar igual
Não me satisfazem, por diversas teses
Odeio viver nesse mundo real
Revejo o passado, mas ele não volta
O parapeito me sente, e da parede se solta


-R.C.

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Nosso boteco

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Mais um gole
Por favor
Dá sua prole
A este senhor
Não me enrole
Deixe eu me expor
 
Essa paixão, já muito antiga
É de todas a mais querida
De todas as amadas
Só esta a verdadeira
 
Neste balcão lhe imploro
Por uma chance mais
Sentimentos já não ignoro
Poderão ser meu capataz
 
Tua resposta é o mais importante
Tira-me dessa prisão
E, daqui, não há nada mais irritante
 
Fico imóvel, incapaz
Neste velho amor que tenho
Serve-me tal como alcatraz
 
Não se isole
Com esta dor
Meu peito está mole
Vermelha cor
Não se desole
Se eu me for
 
Parece que as coisas
Não são fáceis como antigamente
Me enganas e tudo tiras
Quero ficar inconsiente
 

-R.C.

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Insônia

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  • Tempo de leitura:2 minutos de leitura

Escrevo pelas paredes os versos cuja recitação foi falha a você. Eles me torturam. Escravizam minha mente, forçando-me a não pensar em outra pessoa, situação. Não há espaço nem para sonhos, estudos ou sequer leituras. Tudo é pesadelo.
Qual a tinta dessa (anti)poesia? Não há definição deste vermelho. Pode ser meu sangue ou o teu, nunca saberemos. Os cortes feitos em um são sentidos no outro. Que lindo é o amor… partilha do pão e vinho; no caso do corpo e do sangue.
Agora entendo a não-diferenciação da tinta. Ela é uma só, removida de um só local, extraída em uma só dor. Seria a briga, então, uma auto-mutilação voluntária? O “tempo” uma dupla-personalidade?
Te culpo sim pela loucura trazida pela privação da necessidade humana mais irracional- tu tirastes de mim o amor e como consequência, se foi meu sono. Junto do sono, esvai-se a vida, deixando-me sem vitalidade alguma. Já não conheço visão se não a turva; sensação visual que não a ardente; gosto de não o salgado de minhas lágrimas e talvez o de sangue arrancado dos lábios perante o desespero.
Sou obrigado por este sentimento a fechar-me em mim. Sou todo escuro. Sou todo buraco. Gauche de mim mesmo, sinto peso nenhum comigo se não o da sua perda, e ele é suficiente para me jogar no chão.
Não é suficiente para desligar minha cabeça.
Não é suficiente para cansar.
É o que basta para me enlouquecer.

-R.C.

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Humanize

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Quem é o capitalista inimigo
Supostamente fétido
Devidamente temido
E por vocês sofre perigo?

Lhes respondo de prontidão
E me perdoem pela decepção
Mas ele é uma fantasia
E vocês perseguem uma ilusão.
 
O empresário malvado
Chefe mal-humorado
É gente como a gente
 
Tem medo de morrer
Deseja também prazer
Teve a vida para aprender
 
Vocês gritam morte
Para outros terem vida
O objetivo é igualdade
Isso ninguém invalida
 
Mas a vida dele é de verdade
Não sua teoria da improbidade
O filho do cara chora igual
Não o desumanize por total
 
Quer quebrar banco? Não acendo teu pavio
Mas o segurança é pessoa
Não entro nesse navio
 
Podem dizer talvez
Que sou humanitário demais
Mas pra mim, gente não tem vez
Nossa raça nunca vai ter paz
 
Piores do que os lobos
(Estes vivem em alcatéia)
Fazemos os outros de bobos
Que merda de idéia!
Só estou notando sua incoerência
E nunca vai adiantar
Você vai continuar na indecência
E eu a todos criticar.

-R.C.

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Paganismo da noite

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A insônia criativa
É o pesadelo de qualquer poeta
Pois tira sua energia completa
E escrevemos de maneira vingativa
Pelo sofrimento dessas madrugadas
Mal-dormidas, mal-vividas
Nem sonhadas ou descansadas
Simplesmente trocadas de meus olhos
Por marcas fundas de guerra interior
E esta vitória não deixa orgulhos
Mas na cabeça deixa dor
Nas ligações arrependimentos
Nas mensagens verdade inapagável
Na mente alívio pros sentimentos
No papel pensamento do não-alcançável
Preciso dormir, ó Morpheu
Quero deixar Apólo de lado
Esquecer a arte que este deus me deu
E cair em seus braços sem medo


-R.C.

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O primeiro poema

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Para ti foi o meu primeiro poema
Assim também está o último
O triste fim não será problema
Música lenta que me leva ao abismo

Com doces palavras te elogiei
Tal como açúcar puro e cristalino
Suadas mãos segurei
Ao som do afinado violino

Carícias íntimas e intimistas
Enlace de duas almas errantes
Seriam penas quase ilícitas
Mas ideias não eram como antes

Ilusão profunda
Ou realidade dolorosa
Seria essa uma dúvida oriunda
De uma realidade mentirosa?

Comigo não dialoga, fala
Só grita, escarra
Até orei a Alá
Mas a mim tu agarra

Tento fugir, mas é impossível
A ti amo demais
Viver só é inconcebível

Por que isso acontece?
Você me fez muito mal
Parece que entender de verdade
Só irei ao final

Meu final feliz é horrível
Digno de depressão
Mas essa comparação é cabível
Pela altura e pelo coração
Sem você não há combustível
Contigo entro em combustão
A vida não me é disponível
A morte um belo alçapão
 

-R.C.

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