Os melhores discos nacionais de 2019 – e alguns singles.

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O ano de 2019 foi um ano abençoado para a música brasileira, em questão de qualidade de produção. Um ano frutífero, como não poderia deixar de ser, numa terra que constantemente dá espaço para mentes de artistas tão geniais.

Ano passado, mais ou menos nesta época, eu estava escrevendo sobre o EP. Espelho, da Drik Barbosa, menos de um ano depois ela lança seu disco de estréia, auto-entitulado. Por isto, pensei em escrever sobre ele mesmo, como uma continuação; porém, percebi que não teria como falar sobre esse disco, não pela falta de profundidade, mas porque eu queria fazer algo mais simples primeiramente.

E é dai que vem a ideia de listar meus discos favoritos do ano, e fazer um breve comentário do porquê deles estarem aí. Caso venha a calhar destrinchar mais conceitos em posts individuais, será feito. Sem mais delongas…

Não tem ordem, rank: somente listagem

Psicodelic – Coruja BC1

Não foi o primeiro álbum que ouvi no ano, mas definitivamente um dos que eu mais esperava. Desde 2017 quando o Coruja soltou o NDDN sou fã dele, desde a escrita, musicalidade à estética dos clipes a arte de capa.

Ouvi bastante e posso afirmar que eu gostei de Psicodelic como um todo. Eu costumo a dizer, pra quem quer ouvir, como analiso um CD a partir da primeira faixa. E o Coruja fez isso muito bem; Lágrimas de Odé é uma música extremamente completa, com começo-meio-fim definidos e poderosos. Por mim, a melhor faixa, dá o tom que o resto vai seguir, como se Psic. fosse uma conversa e Lágrimas fosse o script desse solilóquio do Coruja.

Vale a pena ouvir, mostra diversidade por parte do artista, que se aventura em variações dentro do rap em geral, além de temáticas e etc.

Mixtape: O Homem Não Para Nunca – Froid & Santzu

Admito que eu não sou o maior fã do Froid, e não havia ouvido Santzu antes desse disco. Por mim, o Froid lançou dois álbuns consecutivos que tinham conceito promissor mas execução mediana, o que me decepcionou, então passei a desconfiar de absolutamente tudo que ele faz.

Aí ele lançou essa mixtape colaborativa.

Por mais que eles chamem de mixtape, vejo algo muito bem pensado e quisá planejado. Ao contrário dos solos do Froid, o conceito é despretencioso e a execução excepcional. Não só a musicalidade está consistente e trabalhada como as letras estão bem escritas- tanto pra um quanto pra outro.

O primeiro som, Ninguém Morre Me Devendo, que não é a intro (que eu adorei, por acaso), coloca o Froid pra fazer o refrão de primeira, o que dá espaço pro ouvinte novo, como foi o meu caso, conhecer o Santzu sem um efeito de ancoragem. Dali pra frente, quando se ouve, ambos são igualmente valiosos para a construção da obra.

GEO_01 – GEO

GEO apareceu nas recomendações do meu Spotify por um som que ela fez com o niLL, artista que eu gosto bastante. Mas ela faz algo que flerta com o Pop, gênero que eu sempre evitei, em geral.

De primeira eu já amei o conceito de ciborgue utilizado como personagem por ela nas músicas, inclusive nesse disco de estréia.

 As expressões normais, como “comunicação“, ganham uma atmosfera mais completa, talvez mística quando utilizadas por ela. É um pouco de metáfora, de personagem, de estética e mais um pouco. Se no Trap é normal usar sons mais robóticos/eletrônicos e se vê uma significação, na música dela cada pequena nota dá um pouco de curiosidade do que vem depois- além de que ela tem uma voz excepcional de boa.

Recomendo todas, e especificamente na ordem do disco.

Capa para ilustrar qual disco é referenciado no texto.

PADRIM – FBC

Curto o FBC já desde 2016, por causa principalemente do DV Tribo, e passei 2 anos agonizantes pedindo mais música e um álbum; desejo que foi concedido ano passado com S.C.A., e para a nossa sorte a caneta dele não descansou.
O disco como um todo é bom, mantém um nível alto de sonoridade e até que há variedade.

Dito isso, vi dois problemas na obra que não necessariamente atrapalha o ouvinte de aproveitar, mas eu como fã me vejo na posição de mencionar: a introdução, que não acrescenta muito na compreensão total, e a falta de unidade do CD. São músicas ótimas, mas que mais cabem como uma mixtape do que um álbum, na minha opinião. É como se o conceito fosse ou amplo demais ou simplesmente não existente.

Em compensação, as músicas são deliciosas de ouvir, letras que mostram habilidade e os feats parecem ter sido escolhidos a dedo. PADRIM entra sim nos melhores.

Rap de Massagem – Hot e Oreia

O DV Tribo apresentou pro RAP alguns dos nomes que mais chamam atenção; e esse foi um caso muito peculiar. No grupo, dava pra ver já que esses dois tinham uma pegada não exatamente igual à dos colegas, mas eu não imaginei que daria em algo no naipe do que essa dupla entregou nesse ano.

Eu, sem exagero, me apaixonei por todas,

Capa do CD Rap de Massagem, da dupla Hot e Oreia

e repito, TODAS as músicas desse CD. A pegada comediante e ácida trazida nas letras, clipes e até instrumentais é única no cenário nacional; e até onde eles se colocam em posição séria, que (não por acaso) é logo na primeira do álbum, Eparrei, se vê a mesma ironia, mas utilizada em outro prol.

Eu garanto que os 30 minutos serão extremamente bem utilizados. Dou foco para, principalmente, Eparrei e Cigarro, respectivamente primeira e últimas músicas.

Fazendo Arte – Sant & LP Beatzz

Sant e LP já colaboravam há um tempo, e esse EP, que nas palavras do próprio MC é o último da carreira dele no RAP, foi lançado em colaboração.

A produção é de ponta, as letras seguem na mesma vibe- é sem dúvida uma perfeita despedida para alguém que marcou toda uma geração- se não de rappers, de ouvintes.

Um dos conflitos que passei quando pensava sobre esse EP foi que, pela simbologia, merecia esse estar no top 5 discos do ano, mas infelizmente a obra inteira soma 9 minutos; e por mais que eu já tenha ouvido esses 9 minutos 90 vezes, é injusto comparar esse conjunto com outros com tamanho maior.

Sem dúvida Sant fará falta e LP há de continuar produzindo com a mesma finesse.
Fizeram juntos uma obra memorável.

DRIK BARBOSA – Drik Barbosa

Finalmente, deixa eu falar um pouco da estréia dessa artista sensacional que é a Drik. Pra quem leu o post que deu origem a esse (o sobre Espelho) é óbvio que eu sou um grande admirador da versatilidade da Drik enquanto letrista e rimadora. Isso não poderia deixar de ser explícito no álbum.

Ela passa por muitos estilos diferentes,

Capa do disco homônimo de Drik Barbosa, que tem a própria sentada numa cadeira de madeira, em cima de um tapete, fundo branco.

mas é com tanta naturalidade que só se percebe isso ao fim, quando volta-se pra buscar alguma música que agradou mais, seja pela letra ou sonoridade, e fica muito fácil saber qual é qual. As transições do CD são excepcionalmente bem feitas, as melodias agradam muito e as rimas são de altíssimo nível.

Vale dizer que as minhas prediletas foram Herança (sim, eu tenho uma predileção por primeiras músicas, principalmente se elas traduzem o conceito de um disco com tamanha maestria), Rosas Liberdade. Não deixem de ouvir essa obra!

Pedras, Flechas, Lanças, Espadas e Espelhos – Thiago Elniño

Eu sei que a gente não ouve disco pelos interlúdios, mas eu devo admitir que no ‘Pedras, Flechas, Lanças, Espadas e Espelhos‘ as pontes são tão gostosas de ouvir que não tem nem como não ouvir e se ver aproveitando quase igualmente.

O Thiago é um letrista habilidoso, e usa de todos os artifícios para fazer músicas 

extremamente impactantes no ouvinte- frases como ” [… ]vários que assim como nós / tão esperando chegar sua vez / de acertar a boa, mega-cena, fé a toa / mas não se pode sonhar muito / quando tem que se acordar as seis” (Nova Oração, 3:30).

O disco fala muito sobre ancestralidade, como uma jornada que ElNiño leva o ouvinte a se conectar com suas origens pretas. Essa parte sai do meu lugar de fala, mas o que consigo dizer com firmeza é que independente se você tem ou não ancestralidade preta próxima, ele consegue te fazer sentir, ver e entender novas coisas.

Deste, destaco Nova Oração, Atlântico e Filhos do Sol; mas já antecipo que vale ouvir inteiro e aproveitar da aula de conceito que está tão próxima de você.

AmarElo – Emicida

Desde 2015, quando ouvi Boa Esperança, e o disco ‘Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e  Lições de Casa…‘ tenho esperado um novo conjunto por parte do Emicida. Não por pouco ele é um marco na música nacional, e AmarElo é uma continuação à altura desse legado que ele está deixando para nós.

O disco mostra o amadurecimento do artista,

tanto como pessoa como músico e poeta. Assim como Elniño e Djonga, Emicida trata aqui de resgate e herança da cultura preta, e faz isso com habilidade.

Dito isso, vale pontuar que as músicas até Ismália tem uma pegada mais leve em questão de sonoridade, menos graves- enfim, um estilo como um todo; a partir daí, ele coloca Eminência Parda e Libre, que parecem meio perdidas em meio ao conjunto- e não me entenda mal, ambas são ótimas, mas, em vibe, não me pareceram condizentes com o total.

Recomendo Ismália e A Ordem Natural das Coisas. A primeira tem um peso emocional muito grande e a participação de Fernanda Montenegro na declamação do poema de Afonsus de Guimaraens; já a segunda faz uma relação interessantíssima sobre a rotina da mãe do artista com o dia-a-dia da cidade, com alusões e metáforas que te fazem refletir.

Ok, não tinha ranking até agora, mas esses dois merecem diferenciação

Abaixo de Zero: Hello Hell
– Black Alien

Black Alien conseguiu algo impressionante: numa época dominada pelo trap e variantes mais aceleradas do RAP, fez um disco inteiro com instrumentais mais calmos e puxados pra um jazz em contraste; além disso, foi no caminho inverso da cena que, em geral, tende a glamorizar o uso de drogas (e não há criticismo, apenas

constatação, aqui) fez letras que dão um enfoque maior em como o uso irresponsável leva num caminho mais sombrio.

Pra ser honesto, os dois discos anteriores do Gustavo não me desceram tão bem; não é como se eu achasse ruim, mas o tom usado pra descrever os Volumes 1 & 2 de Babylon by Gus é quase canônico, tratando-os como obras-primas da música. Respeito essa posição, e pode ser que eu venha a admirar ainda mais no futuro. O ponto é que quando o clipe de Que nem o Meu Cachorro foi lançado, eu não estava inclinado a gostar tanto do som. Ouvi provavelmente em boa fé devido ao quanto eu curto Mister Niterói ou Como Eu te Quero, mas depois de terminar, eu já estava totalmente vidrado. Logo, quando Abaixo de Zero foi lançado, eu não tive opção se não ouvir, e ouvir e ouvir.

A ironia de usar um estilo de música que usualmente normaliza o uso de maconha, bebida, lean (novamente me sinto na obrigação de dizer que não acho errado ou certo, só constato que é o que acontece, principalmente no exterior) para fazer uma crítica sobre esses hábitos é genial. Realmente nos faz agradecer a força que o autor deve para largar, sobreviver e escrever músicas tão boas.

Ao contrário de alguns álbuns nessa lista, não há uma variedade grande no disco- nem em musicalidade ou em temática. Pelo contrário, Black foca nessa sonoridade flertando com o Jazz, bem orgânica, e usando comparações, metáforas ou discurso direto para falar sobre drogas. E o foco deu frutos.

Como dá pra adivinhar, recomendo que todos ouçam esse disco inteiro, de preferência pelo menos duas vezes. Uma em sequência e outra no aleatório, para ver o como a obra tem uma ordem proposital e como os sons individuais também são de qualidade. Dou destaque para o single Que nem o Meu CachorroÁrea 51.

Próspera – Tássia Reis

Pra quem acompanha o blog, essa parte não é surpresa alguma, visto que lá pro meio do ano eu já havia falado desse disco e elogiado ele de todas as formas e em todas as formas possíveis. Por isso, eu não vou me extender muito nesse comentário.

Próspera, ao contrário das virtudes do Hello Hell acima, faz músicas de todo tipo- e muito bem. Tássia Reis

demonstra versatilidade, interesse e clara dedicação em mostrar que pode explorar qualquer estilo, vibe, gênero, temática; nesse disco, ela canta, ela rima, ela harmoniza…

Não cabe em palavras o quanto eu me apaixonei por esse álbum, a quantidade de vezes que ouvi a obra como um todo, as músicas individuais… enfim, Próspera é, de fato, música de todos os tipos e da melhor qualidade.

Fica aqui novamente o apelo para que todos ouçam esse disco, que para mim é atemporal e indispensável. Depois de alguns meses ouvindo, não vou deixar de recomendar uma favorita como fiz antes. Mas serão 3.

Dollar Euro, com participação da Monna Brutal, um trap muito delicioso de ouvir, participação espetacular e rimas agressivas. Eu + Vc, com participação do Fabriccio, um som mais meloso e calmo, mais cantado e tocante. Por último, Me Diga, que é um bom meio do caminho entre as duas anteriores, que trás uma mensagem de auto-reflexão e inspiração.

Extras…

Esse post já está muito, mas muito, maior do que eu pensei em primeira análise, mas já que estamos aqui, vou matar tudo de uma vez- e por último, além dos discos, queria falar de alguns singles que eu acho que marcaram o ano de 2019 (pelo menos para mim):

Peguei a Xai – Dona Maria MC

Esse som é um trap muito delícia, e a Dona Maria sempre entrega uma rima à altura.Aposto muito um próximo disco dela.

Time da Casa – TheGusT

Curto bastante a sonoridade do TheGusT como um todo, e nesse som eles voltaram ao antigo estilo deles, e misturado com um pouco do novo. Vale a pena conferir.

Jogador Caro – Negus

Negus é o vulgo do antigo Nego-E, que trouxe pro mundo em 2016 Oceano (um dos meus discos favoritos). Depois de um tempo sem novidades, esse som deu pra matar a saudade.

O Quarto Continente – GÁBE

Logo depois de lançar seu EP visual, GÁBE soltou esse single como uma continuação- e inclusive ambos conversam muito bem.

Os Três Continentes de um Soundcloud – GÁBE & Arit

O GÁBE é sem dúvida um dos rappers mais talentosos na cena em questão de escrita; ele ousou nesse EP visual experimentar com gravação, propostas mais abstratas e acertou em cheio. Coloquei ele aqui pois, em questão de autoria, menos de 5 minutos do EP são escritos e rimados pelos próprios. Ainda sim, marcou!

SDDS Sant – Furamil 2Cão

O Furamil manda muito bem desde o começo, e parecia que haviam parado de lançar ano passado, mas pegaram o hype em cima da aposentadoria do Sant e lançaram esse single que tá ótimo.

Licor – Budah

Ah, a Budah. A voz dessa mina me impressiona de tão boa, e essa música não sai nem um pouco da reta dessa expectativa.

 

Vista Loka – Bivolt

Bivolt é muito talentosa na caneta e voz- e depois de uns meses na inatividade, soltou esse som com clipe, que com visuais chamativos e pegada (ainda) mais combativa.

Termino aqui os melhores de 2019. Concorda com tudo? Faltou algum disco ou single que você colocaria? Manda aqui pra gente!

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Romance, orgulho e luta racial – 'Próspera' é música, de todos os tipos, da melhor qualidade

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A minha experiência com Tássia Reis é limitada.

Infelizmente, quando a ouvi pela primeira vez, numa cypher do RapBox, Sinfonia da Revolução, eu não curti muito; pra ser sincero, naquela cypher eu só gostei de metade da música. Eu admito, desde esse momento, que a voz era boa, mas por algum motivo o verso, a quebra de ritmo do beat não me agradaram. Mas tudo bem. Não foi a última vez que trombei com ela em playlists.

Imagem de divulgação do single ‘Contramão’, com Tássia Reis, Pìtty e Emmily Barreto.

A segunda vez foi seis meses depois, no single “Contramão“, da Pitty.. Pitty é uma artista que eu tenho como querida, mesmo não sendo minha favorita. Dessa vez, Tássia roubou totalmente a minha atenção. Apesar de um tipo similar de participação, no sentido de mudança de ritmo e tudo mais, dessa vez eu não conseguia tirar aquilo da cabeça; porém ainda sim a primeira impressão de seis meses antes não havia desaparecido.

Algum tempo depois, provavelmente em alguma playlist de novidades ou no DailyMix do Spotify, ouvi duas músicas de tons completamente opostos da mesma: Shonda e Se Avexe Não. Aí não teve como negar que o primeiro verso ouvido era uma peculiaridade- ou realmente algo fora da curva de qualidae dela ou alguma frescura minha que eu não consegui identificar sozinho, mas, de qualquer maneira, o fato é que a Tássia é extremamente talentosa e tem muito pra falar, de maneiras diversas e maravilhosas.

Thumbnaildo videoclipe de Se Avexe Não

Se avexe não
Não chore
Nem se demore nesta dor
Porque acalanto do seu coração
Está vindo
E é tão lindo quanto esta canção

Se Avexe Não

E pouco mais que quatro meses depois, ela lançou um disco novo, que ouvi sem compromisso algum no trabalho a primeira vez, e estou ouvindo uma ou duas vezes por dia desde então: Próspera.

Tô na contramão do sistema
Eu tenho medo da polícia
Mais de você, sinto apenas pena

Imensa Luz

Esse álbum é simplesmente incrível. Tássia usa e abusa da sua voz poderosa, mas não tem medo de colocar um auto-tune para alcançar efeitos diferenciados. em uma faixa solta punchlines cirúrgicas e na outra fala de amor com uma leveza tocante.

Como eu falei no começo, minha experiência com a Tássia é limitada, e talvez por isso eu ainda me impressiono com a flexibilidade artística- mas eu acho difícil. Não me lembro a última vez que vi um álbum que mesclou com tanta maestria um R&B, trap, MPB, jazz… enfim, deu pra entender a extensão dessa habilidade.

Tudo é uma incerteza
Mas senta aqui na mesa
Me paga uma breja
E pensa eu mais você
Por que não?

Eu + Vc

Eu ainda não achei uma faixa favorita. O motivo é que a cada vez que ouço esse disco algo salta que não devia passar despercebido. A música de Tássia conversa com muito a todo momento, e Próspera é sem dúvida um dos melhores álbuns de música brasileira do ano e uma experiência indispensável.

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Água para Camélias- o porquê de Espelho ser um dos trabalhos mais importantes de 2018

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Eles dormem, eu faço planos

Drik Barbosa

É assim que se inicia o trabalho que eu considero o musicalmente mais relevante do ano de 2018. O EP ‘Espelho’ tem 16 minutos e um documentário de 9min, uma obra total de 25min. Drik Barbosa pôs seu melhor em 5 faixas, passando desde temáticas pessoais até estruturais, começando em um som orgânico e chegando no trap, sem deixar em momento algum de ser o melhor do RAP e R&B.

Promocional do EP

Como sempre, acho melhor dar uns passos pra trás antes, para que faça mais sentido o porquê desse trampo tão pequeno ser relevante e extremamente importante.

Aos 25 anos, ela coleciona versos destaque e refrões ultra melódicos, uma das melhores vozes da música brasileira atual. Com pouco mais de 32 colaborações (cyphers, feats e etc), ela já está na caminhada há tempos. Desde 2007 ela já é chamada para cantar em discos[1] de músicos como Flow MC, Marcelo Gugu, Dj Caique, Emicida e etc. Conheci-a em Mandume, que integra o 2º disco do Emicida. Ela abre esse som com maestria, recheia o verso com referências sensacionais, punchlines agressivas e postura condizente. Conforme ela participou de projetos como o Poetas no Topo 3.1 e o Poetisas no Topo, conheci um lado mais melódico e mais rimas espetaculares. Em 2017 ela também integrou o projeto Rimas & Melodias, que lançou um álbum sólido. Ela está, já a um tempo, nos holofotes do rap nacional, sendo requisitada pra projetos e projetos, representando as minas bem demais.

Tendo em vista essa recapitulação da caminhada da Drik até agora, fica muito claro que quando o G1 a coloca no título da matéria como revelação, a falta de consideração por toda a caminhada anterior é evidente. E também por isso, ela lançar um EP depois de 11 anos de carreira é chamativo.

As músicas que compõe esse trabalho são, na ordem na qual aparecem:

  1. Espelho – part. Stefanie (prod. GROU)
  2. Banho de Chuva (prod. GROU)
  3. Inconsequente (prod. GROU)
  4. Camélia (prod. GROU)
  5. Melanina – part. Rincon Sapiência (prod. Deryck Cabrera)

Vamos por partes.

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Uma história com 4 inícios (e finais) – o que mudou de 2015 pra cá

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Existem milhares de maneiras de dizer a mesma frase. Modificar a ordem de certos termos numa frase, usar sinônimos, adicionar e/ou remover palavras (dentre muitos outros instrumentos da Língua) são ferramentas que te permitem expressar ideias iguais de maneira diferente. Expandindo um pouco o uso das mesmas ferramentas, dá-se por exemplo a passagem de duas mensagens com frases parecidas. Ou mensagens completamente diferentes com expressões diferentes. Enfim, o meu ponto é que o Português, por si só, já é extremamente versátil e comporta muitas formas de comunicação.

Imagine misturar essa versatilidade à arte. A imensidão de sentidos e maneiras gera um vão para olharmos e compararmos como se diz e porquê.

Por isso que hoje, quero falar de sobre uma imagem poderosa. Eu não sei exatamente o porquê ela é tão forte, por quê causa um certo desconforto inconscientemente. A imagem aparece em 5 vídeos do Rap nacional- ‘O Que Separa os Homens dos Meninos’, Sant; ‘Crime Bárbaro’, Rincon Sapiência; ‘CORRA’, Djonga; ‘Bluesman’, Baco Exu do Blues; ‘Deus do Furdúncio’, BK- de maneira similar: a imagem de um homem, negro, correndo.

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Nós perdemos

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Nós perdemos.

Não falo simplesmente da esquerda partidária, que sucessivamente tem sido “surpreendida” nas urnas, mas sim de nós, humanistas. Não deveria ser considerado ‘de esquerda’ apoiar direitos humanos, mas, neste momento, é. O feminismo não deveria ser ‘de esquerda’; mas é. Lutas raciais, antifascismo e muitos outros movimentos deveriam ser mais sobre igualdade, mas não. E por isso que perdemos.

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Amor além da matéria – sobre "Ela", Spike Jonze (2013)

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Mais que sobre a realidade versus artificialidade- trama bem explorada nas distopias modernas e, mais especificamente, pelo Black Mirror- o filme “Ela” (Spike Jonze, 2013) se trata de como nos relacionamos da mesma maneira em todos os campos da vida. Também é sobre um amor diferente do visto nos livros e poemas; um amor real e introspectivo, provindo de uma jornada de redescoberta de si.

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A fotografia de “Ela” há de se destacar; além da maneira tocante dos personagens de se relacionar, a movimentação, focalização e enquadramento do filme dão a ele outra dimensão.

O filme começa (genialmente) numa cena que viraria cotidiana no longa-metragem: Theodore (o personagem principal muito bem interpretado por Joaquin Phoenix) redigindo uma carta pra lá de tocante. O filme quebra as expectativas mostrando que esta é para alguém não relacionada ao protagonista, mas cliente da empresa na qual trabalha.
O envolvimento de Theo com a inteligência artificial ‘Samantha’ se dá de uma maneira controversa, mas natural (com a voz emblemática de Scarlett Johansson). Sem a possibilidade de materializar-se, pela falta de um corpo, Samantha se faz presente na vida do protagonista mesmo como um “computador”. Firmando-se como uma par-romântico, com sentimentos e pensamentos extremamente humanos se torna querida do espectador, além de uma verdadeira agente na vida de Theo.
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Theo se assemelha muito, na minha visão, à Paulo Leminski, grande poeta brasileiro. Ambos escritores, sensíveis e… com um notável bigode! (Acima, Joaquin Phoenix como Theodore. Abaixo, Paulo Leminski).

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“Acaso é este encontro / entre o tempo e o espaço / mais do que um sonho que eu conto / ou mais um poema que eu faço?” – Paulo Leminski,

 
A relação do protagonista com 3 mulheres principalmente faz a pergunta “a quem se refere o título ‘Ela’ se refere?” pode surgir, mas é só assistindo essa obra-prima do Cinema para chegar a conclusão: seria Samantha, a ex-mulher Catherine ou a melhor amiga Amy?
Fica mais que recomendado o filme “Ela” de Spike Jonze.
 
 

Ponto parêntesis Léo: conteúdos inspiradores e complementos

Antes de escrever essa resenha, dois vídeos me inspiraram a ver “Ela” e com toda certeza influenciaram minha maneira de assistir o filme (e creio que muito para o lado bom), por isso deixo aqui dois vídeos: um do Quadro em Branco, um canal do Youtube sensacional que trata de assuntos culturais-filosóficos-sociológicos de maneira sensacional (sou seguidor fiel do canal) e outro do Gustavo Cruz, um canal que conheci agora, mas com a produção interessantíssima. Fica a dica!

(Este vídeo trata mais da dimensão amorosa nos dias atuais, muito presente na discussão do longa, não se retrata diretamente ao filme em si.)

(Este traça paralelos entre “Ela” e “Lost in Translation”. Trás o background de criação do longa em questão, por isso tão precioso!)

 

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Manifesto do Partido Comunista- Karl Marx & Friedrich Engels

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AVISO: Será feita uma nem tão pequeno resumo/análise do livro. O livro é dividido pelos capítulos, e assim será esta. Quando houver escritos envoltos de fundo diferente (vide exemplo abaixo) trata-se de uma crítica/pontuação completamente minha, com extrapolações de minha natureza intelectual, ou seja, não tome como verdade marxista. Textos com deslocamento à direita/centro são os títulos dos capítulos e/ou subdivisões, pontos totalmente envoltos por áspas (“) são citações.

Boa leitura!

Ponto parêntesis Léo: Exemplo

Série de prefácios

1872

  • É afirmado que a revolução fica mais difícil de se instalar a cada momento.
  • A aplicação prática do Manifesto depende da circunstância histórica.

1890

  • Mostra a confiança de Marx no desenvolvimento intelectual dos operários pela Revolução.
  • Houve uma enorme influência do Manifesto em movimentos operários no mundo todo.
  • Na época de lançamento do Manifesto (1848) o socialismo era entendido como movimento burguês e comunismo o movimento operário.
  • Existia (na época) um movimento mundial de união do proletariado.

1. Burgueses e Proletários

  • Burguesia= classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção e empregadores.
  • Proletariado= não possuidores de um meio próprio de produção, vendendo sua força de trabalho para viver (assalariada).
  • A história humana é a história da luta de classes.
  • A luta da época é burguesia versus proletariado.
  • A grande indústria cresce cada vez mais, resultando na expansão do mercado mundial, ou seja, mais comunicação, navegação e comércio

Conceito de burguesia inicial

  • Economicamente= Idade média, cidadão livre na comuna que cresce economicamente com as Grandes Navegações (novo mercado de consumo) pela intensificação dos meios de troca e mercadorias (impulso à indústria e à navegação).
  • Politicamente= É uma burguesia que luta pela autonomia política da comuna, é oprimido pelo senhor feudal.

Conceito de burguesia média

  • Economicamente= Há a troca de produção feudal pela manufatura pela insuficiência de produtos para novos mercados, portanto, acontece a ascensão da classe média industrial e a divisão do trabalho nas próprias oficinas.
  • Politicamente= Torna-se uma classe que equilibra a nobreza durante a monarquia (seja ela absolutista ou não).

Conceito de burguesia moderna

  • Economicamente= A demanda cresce ainda mais e manufatura é substituída pela  grande indústria (energia à vapor e maquinário) com a Revolução Industrial ou a Indústria Moderna. As classes médias industriais, milionários da indústria (em geral, a burguesia) surge aí, que enriquece exponencialmente.
  • Politicamente= Essa burguesia domina exclusivamente o estado pós-moderno. O governo é uma administração dos negócios burgueses.

  • Burguesia aniquiladora de relações feudais, patriarcais.
  • Explicitou a exploração ⇒ Agora ela é “cínica, direta e brutal”.
  • Há a redução de tudo ao dinheiro.
  • Na era burguesa, vê-se uma internacionalização da tecnologia, cultura, comércio, uma adoção mundial do capitalismo e do modo de vida burguês.
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    Foto da edição utilizada para análise.
  • É constatado que a burguesia cria e desenvolve meios de produção e relações fortes demais para controlá-las, e, portanto, haveria alguma revolta (causada pela próprio burguesia).
  • A visão marxista é de um proletário tratado como um artigo do comércio, uma extensão/acessório da máquina (o trabalho perdeu o atrativo da autonomia com a expansão do maquinismo).
  • A exploração tem como bem maior e visão somente uma coisa: o lucro.
  • Sexo, idade não tem valor para a classe operária, somente no custo do trabalho pago pelo burguês.
  • A classe média antiga (pequenos industriais, comerciantes, artesãos e camponeses) viram proletários devido á concorrência com os grandes capitalistas.

Consolidação da luta burguês versus proletário (resumido)

Obs: É uma  luta contra as relações e há destruição dos instrumentos e mercadorias.
  1. Luta isolada.
  2. Mobilização na fábrica.
  3. Mobilização no setor industrial.
  4. Mobilização do país (massas diversas) ⇒ Luta contra os inimigos da burguesia, como proprietários rurais, pequenos burgueses aliados a estes e a monarquia.
  5. Crescimento do proletariado.
  6. Evidente luta de classes.
  7. Formação de organizações fortes
  8. Conquistas de direitos, como a jornada de 10 horas.

  • A única classe capaz de fazer revoluções é o proletariado, visto que é produto da industrialização (sempre vai existir no capitalismo).
  • A vida do proletário é completamente diferente da do burguês, e nela o trabalho, religião, leis e moral são meios burgueses de esconder seus interesses de classe.
  • A burguesia não pode continuar dominante por não conseguir impor seu modo de vida, de ter que alimentar o proletário para manter-se no poder.

Sabia que esta é a segunda obra a ser tratada no LdM? A primeira foi A Segunda Pátria de Miguel Sanches Neto. Que tal olhar a resenha desse livro? Só clicar na capa do livro ou no nome.capaaberta_segundapatria_site

2. Proletários e Comunistas

  • Pergunta: qual a relação entre proletários e comunistas?
    Resposta: ambos tem os mesmos interesses e não são um partido à parte. A diferença mora no fato de os Comunistas serem os mobilizadores do proletariado, pois tem noção das condições gerais do movimento. Comunistas tem como objetivo maior os interesses gerais do proletariado internacional e são a expressão geral das relações com a luta de classes.
  • A supressão de relações de propriedade não é exclusiva do comunismo.
  • As relações de propriedade sempre mudaram.
  • O Comunismo envolve a abolição da propriedade burguesa/privada.
  • Propriedade privada ≠ Propriedade individual/pessoal
  • O proletário não tem propriedade, mas sim capital.
  • Capitalista é aquele que assume posição pessoal e social, visto que o capital é um produto gerado pela atividade de toda sociedade.
  • Capital é uma força social; é gerado pela sociedade, portanto, deveria ser propriedade social, não privada.
  • Salário mínimo é o mínimo necessário para a sobrevivência, e seria suprimido pelo socialismo científico.
  • Com o salário mínimo, o trabalho fica com um caráter miserável e com o objetivo único de aumentar o capital da classe dominante.

Ponto parêntesis Léo: Relação capital-proletário

Pela visão marxista, na sociedade burguesa, o capital é símbolo de trabalho, porém, o trabalho que gera o capital burguês não é o dele; vem da mais valia dos proletários.

Logo, se o capital não foi gerado pelo trabalho de um, mas de uma sociedade, ele não deveria ser uma propriedade privada, mas social.

  • Sociedade…
    • Burguesa ⇒ Trabalho como meio de gerar mais trabalho, “o passado domina o presente”, capital independente e pessoal, indivíduo sem independência ou personalidade.
    • Comunista ⇒ Trabalho é  um meio de enriquecer os próprios operários.
  • O Comunismo reprime a personalidade, independência e liberdade burguesa.
  • A liberdade burguesa é a liberdade de compra e venda (comércio), oprimida pelo comunismo.
  • Os argumentos burgueses sobre a liberdade só tem sentido no comércio da Id. Média (travado) e não numa sociedade onde não há mais comércio, portanto, seus argumentos são inválidos.
  • A revolta contra o fim da propriedade privada não faz sentido pois esta não existe para 90% da população. A propriedade privada só acaba para o burguês.
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    Foto clássica de Karl Marx, um dos idealizadores do Comunismo
    Se 90% das pessoas não tem propriedade por meio do trabalho transformado com capital (poder social suscetível de monopólio) para transformar a propriedade individual em burguesa, então, a individualidade é abolida.
  • O Comunismo não impede as pessoas de usarem a propriedade social, mas de transformá-la em privada e gerar mais-valia do trabalho operário.
  • Argumento: No Comunismo, com o fim da propriedade privada, acabariam as atividades e haveria o início de um ócio generalizado,
    Contra argumento: Isso é falso, visto que na sociedade burguesa os que trabalham não ganham, e os que ganham, não trabalham. Não pode ter trabalho assalariado sem capital.
  • Opressão da propriedade de classe ⇒ Fim da produção da cultura de classe
  • A cultura burguesa tem ideais exploratórios.
  • Na sociedade capitalista, as idéias são baseadas nas relações burguesas e na vontade de classe (ideais como a da cultura, direito e liberdade).
  • Esse padrão é contrastante ⇒ As idéias de uma época são criadas a partir da classe dominante.
  • A abolição da família só valeria para a burguesia, visto que só para ela esta “instituição” existe.
  • Nesse trecho, Marx define que, para o proletário, não existem tais relações entre pais e filhos, porque a indústria tira esse tempo do pai e “encurta” (pois já era quase nula) a infância do filho (infância sendo uma criação da sociedade burguesa para burgueses).
  • Argumento burguês: Não se pode introduzir as mulheres à sociedade.
    Contra-argumento marxista: As mulheres (desde sempre) estiveram na sociedade, apesar de oprimidas. O problema é que a burguesia vê a mulher como instrumento de reprodução/”produção coletiva”. É esse status quo que Marx propõe abolir.
  • Crítica ácida à burguesia, que defende a família hipocritamente , porque se traem dentro e fora da classe social.
  • Mulher no…
    • Capitalismo ⇒ uma comunidade hipócrita e dissimulado.
    • Comunismo ⇒ comunidade oficial e verdadeira.

Ponto parêntesis Leo: Feminismo

Nesse trecho, em que Marx defende uma libertação da mulher (indo até o ponto de mencionar que, com o fim das relações burguesas de produção, acabaria a prostituição), pode-se dizer que ele toma uma postura feminista.

Porém, essa corrente não existia ainda. Portanto, é completamente plausível dizer que ele é um precursor do feminismo.

  • Argumento burguês: O comunismo acaba com a nacionalidade/patriotismo.
    Contra-argumento marxista: O proletário só terá pátria quando tiver poder político e reconhecer-se como classe social nacional.
  • Fronteiras nacionais
    • Burguesia: Desaparecerão com o tempo, com o desenvolvimento do livre comércio, mercado mundial e uniformização do estilo de vida e produção burguês [Comentário rápido, teria Marx previsto o início da globalização?].
    • Proletário: Mais rapidamente, inclusive acabando com a exploração entre países [Novamente aproxima-se com a globalização].
  • “As idéias dominantes de uma época sempre foram as idéias da classe dominante.”
  • A semelhança entre os sistemas anteriores e o capitalismo está na oposição de classes e exploração de uma parte da sociedade.
  • O comunismo abole o antagonismo de classes.
  • Mudança/Inversão: O primeiro passo da revolução seria tornar o proletariado a classe dominante, tirando os meios de produção das mãos burguesas.

Se interessa pelo feminismo e gostaria de ler algo mais literário a respeito?
O texto Mais bela adormecida seria interessante para tocar em alguns assuntos da pauta feminista.
Você pode se interessar também pelo No país das correntes, que, apesar de não tratar de feminismo como centro, fala de abuso de incapacitados; no caso, uma mulher.
Só clicar nos nomes dos textos e você será redirecionado para a página.


Seguem abaixo a síntese das medidas para instaurar o comunismo nos países mais desenvolvidos

  1. Fim da propriedade burguesa e utilização da renda para o Estado.
  2. Aumento dos Impostos.
  3. Fim da herança.
  4. Confisco da propriedade de emigrantes e rebeldes.
  5. Monopólio do crédito nas mãos do Estado.
  6. Monopólio dos meios de transporte pelo Estado.
  7. Nacionalização industrial, utilização das terras de maneira coletiva.
  8. Obrigatoriedade do trabalho, organização de exércitos industriais e agricultores.
  9. Junção do trabalho agrícola e industrial, eliminação da dicotomia cidade-campo.
  10. Educação pública e gratuita para todos. fim do trabalho infantil (naqueles moldes), combinação de educação e produção material.

  • Visão marxista: poder público é o poder organizado de uma classe para oprimir a outra.
  • Se o proletariado é uma só classe, como classe dominante, gradualmente acabaria a oposição de classes.
  • A sociedade comunista seria uma associação em que o desenvolvimento individual gera o de todos.

3. Literatura Socialista e Comunista

1° O Socialismo reacionário

Observação: Para efeito de recordação, a Revolução Francesa aconteceu em cerca de 1780, se extendendo por anos. Isso é importante pois parte dos movimentos literários citados são em período de Revolução (junto às datas)

A) Socialismo feudal

  • Surge na França e Inglaterra, com a justificativa de ser o único meio de luta ideológico visto que sua força política era insignificante.
  • A restauração do Antigo Regime era impossível, então, essa aristocracia fingia um interesse único nos interesses do proletariado (contra a burguesia), em interesses de classe.
  • É um socialismo frágil, sem qualquer definição.
  • Ingênuo, pois mostra que a exploração difere da burguesa, mas ignora as circunstâncias dessas explorações e a dependência da existência da burguesia para a formação do proletariado.
  • Na verdade, a ordem social da época dependia da existência daquela classe.
  • O principal argumento é que, com a sociedade burguesa, a Antiga Ordem se romperia.
  • Outro argumento é a acusação (além de ter dado ao proletário meios de revolução) de ter criado a classe operária.
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    Foto de Friederich Engels, parceiro de Marx na escritura do Manifesto.
  • A aristocracia dessa época participava de todos os movimentos de repressão à classe operária, e tentava aproximar-se depois com a ideologia proposta anteriormente.
  • É mensionada a proximidade entre o socialismo feudal e o clerical/cristão.
  • “O socialismo cristão é apenas a água-benta com que o padre consagra o rancor da aristocracia.”

B) Socialismo pequeno-burguês

  • Surge apoiado numa ideologia baseada na “burguesia original”.
  • Essa “burguesia original” é a classe que se desenvolveu a partir do pequeno dono de terras e cidadão extra-muros da Id. Média (que originou a burguesia moderna, mas continua existindo).
  • O desespero dessa classe com o desenvolvimento da sociedade moderna (que erradicaria sua existência, a substituindo) criou essa literatura.
  • Deseja restaurar os antigos meios precários de produção e comércio, rompidos desde a passagem do feudalismo para o capitalismo. Portanto, pode-se concluir a classificação dupla dessa literatura: reacionária e utópica (uma vez formada, a sociedade não volta a ser como antes).
  • Há a análise de contradições no sistema produtivo, a exposição dos artifícios de economistas, efeitos do maquinismo e  divisão do trabalho, concentração de capital, entre outros.
  • Sismondi é o maior representante dessa literatura.

C) Socialismo alemão ou “verdadeiro”

  • Originário de uma literatura contra a luta da dominação burguesa em outros países que foi levada à Alemanha (vivia o absolutismo feudal, portanto, não tinha burguesia como classe dominante) sem adaptação de realidade alguma, sevindo de “arma” dos governos absolutistas alemães contra a burguesia.
  • É chamada de “filosofia da ação”, “socialismo verdadeiro”, “ciência alemã do socialismo”, “justificação filosófica do socialismo” e etc.
  • Esse socialismo perde o caráter de luta de classes, sendo uma “luta humana” em geral.
  • Essa literatura tem como objetivo manter a estrutura-base social alemã, impedindo a ascendência da burguesia moderna ao poder.
  • Essa literatura acaba em 1848, após uma tempestade revolucionária.

2° Socialismo conservador ou burguês

  • Atende à manutenção da sociedade burguesa.
  • Defendido por economistas, filósofos, humanitários, agentes melhoradoes da situação das classes trabalhadoras e etc.
  • Almeja a remoção de tensões sociais e estadia do modo de vida burguês, exigindo que o proletariado se satisfaça com a sociedade, abandonando suas insatisfações.
  • Não há a proposta de acabar com as relações burguesas de produção, mas sim mudanças simplesmente administrativas (sem mexer nas relações de trabalho).
  • Esse socialismo é, basicamente, a afirmação que os atos burgueses são em nome da classes operária.

3° Socialismo e Comunismo crítico-utópicos

  • Não se fala de uma literatura da época de Marx, mas sim das primeiras tentativas de imposição dos ideais do proletariado, qie deram errado pela má formação da causa e falta de condições materiais para isso (condições nascidas nas revoluções burguesas).
  • Pregam um desapego ao mundano em geral e um igualitarismo forçado.
  • Os escritores dessas literaturas entendem a opisição de classes, a eficácia dos meios de dissolução na sociedade dominante, mas não compreendem o proletariado como classe para uma revolução, mas sim como  classe mais sofredora.
  • Creem numa sociedade sem distinção, muitas vezes apelando à classe dominante e rejeitando movimentos sociais. Querem uma via pacífica, com a simples compreensão de seus ideais para a melhoria do mundo.
  • Criticam toda a sociedade existente, despertando no proletário uma revolta importante. Suas críticas exprimem, sem eles saberem, o fim do antagonismo de classes. Este, porém, só se forma tempos depois, ou seja, suas afirmações tem sentido utópico (no momento em que foram escritas).
  • No momento da escrita, os autores foram revolucionários, mas, com a reestruturação da luta de classes, seus seguidores tornam-se reacionários, pois desejam a reimplantação da luta anterior para a solução ideológica proposta.

4. Posição dos comunistas em relação aos diferentes partidos de oposição

  • Comuinistas, em geral, lutam para melhorar as condições de vida do operariado, além da luta pela Revolução.
  • Apóiam qualquer movimento contra a ordem política e social estabelecida, sempre evidenciando a questão da propriedade.
  • Ajudam na organização e união de partidos democráticos.
  • Sempre são abertos quanto aos seus objetivos maiores, que só são alcançados com Revolução.

Ponto parêntesis Léo: A Convocatória

Marx conclui o livro com uma clara chamada inflamatória (“Proletários de todos os países, uni-vos!”), demonstrando a crença em uma possível união e chegada dessa classe ao poder.
Ela nunca aconteceu fatidicamente, visto que todos os países ditos socialistas do mundo só tem democracia no nome, e portanto, ainda está por não acontecer.


Foi isso gente. Comenta aí se discorda com algum trecho da análise, ou sobre o próprio Marx, ou sobre o que der na telha.
Muito obrigado pela leitura, até a próxima!

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Elas passaram dever de casa- sobre o documentário "Lute como uma menina!"

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A ocupação das escolas que seriam afetadas pelo plano de reorganização escolar estadual do governador Geraldo Alckmin em 2015 foi o início de uma onda de rebeliões pelo Brasil. Na época, cerca de 200 escolas foram ocupadas, e o movimento chacoalhou as diretrizes do Governo, fazendo-o, inclusive, recuar em sua decisão. Foram mais de 1000 escolas ocupadas por secundaristas em todo o país em repúdio a PEC 55/241.

Mas não foi disso que vim falar (hoje).

O artigo é sobre o documentário lançado em 9/16 (novembro de 2016), com a direção de Flávio Colombini e Beatriz Alonso: “Lute como uma menina!” Com 1h e 16min, é uma aula sobre diversos temas sociais; consciência de classe, autonomia/autogestão, feminismo, abuso de autoridade, repressão de movimentos sociais numa suposta democracia…

O foco é nas chamadas “meninas de luta” que aprenderam consigo mesmas a resistência supostamente perdida a muito pela juventude brasileira. 100% de entrevistadas mulheres e uma visão de dentro das ocupações tão repudiadas pela mídia e pelos conservadores em geral, vale (no mínimo do mínimo) uma espiada.

Se quiser, já que está no LdM, vê um poema presente no documentário, escrito e interpretado por uma das secundaristas (Carla Prandini), chamado #Ocupatudo.

Após esta apresentação, você pode ver o documentário nesse link do youtube e depois ler a análise ou ver a análise e depois o documentário. Você que sabe, leitor.

Bem, chega de conversa, vamos lá.
(Mas para não perder o costume…)


AVISO: Será feita uma pequena análise. Devido aos temas tocados no documentário, obviamente a opinião do autor está expressa ali. Ela não condiz necessariamente com a do diretor(ra) da obra. O texto foi dividido em algumas partes conforme o tema abordado (dentro do documentário).  As imagens utilizadas aqui são provenientes do documentário.
Boa leitura!


Polo-sul paulista

Um elemento muito presente em todas as entrevistadas é o senso de luta autônoma. Os secundaristas se organizaram sozinhos, desafiando a visão conservadora de juventude irresponsável, sem maturidade para se organizar e ideologia feita para lutar por algo importante (como a integridade das escolas).
Como disse uma das entrevistadas, a escola é o lugar onde o adolescente mais passa o seu tempo e o objetivo das ocupações foi manter este lugar funcional.
A ideia de ocupar não é novidade; em MT já houve movimento com esta estratégia e a “Revolta dos Pinguins” chilena espalhou o método, inspirando os nossos secundaristas. Na verdade, a cartilha publicada pelo Mal-Educado (blog Grêmio Livre) sobre ocupação foi leitura dos primeiros no movimento.. Seguiu-se quase todos os preceitos ali escritos.
No início, ele fala da importância da organização de comissões para decidir e cuidar sobre temas diversos, parte quase decorada por manifestantes (algo a se notar, mas não criticar). Também sobre como a ocupação é o último instrumento de luta, após tentativas de diálogo e manifestos.
O trecho meio ignorado foi a instrução clara: a ocupação deve durar por volta de uma semana. As ocupações duraram meses.
A estratégia deu certo, e Maquiavel brindaria a conquista por adequar as regras às necessidades. Mas devemos observar a seguinte questão: durante este período, as escolas foram autogeridas por alunos, sem comando hierarquizado e centralizado.
Haviam aulas (claramente influenciadas pelo próprio movimento) de caráter social, cultural muito boas. Discussões acerca de temas cruciais para a sociedade brasileira, tais como racismo, machismo e pobreza feitos, um palco nunca antes dado àquelas pessoas (de acordo com depoimentos).
Claro, no atual sistema educacional a escola dos alunos não é muito boa; vivemos no período dos vestibulares conteudistas, não da procura por cabeças pensantes. O colégio público parece uma prisão e sua origem vem de um lugar relativamente parecido: os cartéis do General Franco (fascista espanhol).
A produção intelectual e cultural ali desenvolvida é de importância vital e a escola ali instituída deveria ser norte.
Outra característica do movimento interessantíssima foi a ausência de líderes. O grito “sem liderança” esteve presente em diversas manifestações, mostrado constantemente nas gravações. Infelizmente essa característica não se manteve por muito tempo, de acordo com Julia Durques, ex-secundarista participante das ocupações. Disse ela que, ao início a ausência de liderança e igual distribuição de tarefas acontecia, mas paulatinamente alguns tomaram frente nas decisões.
Mesmo assim, as escolas mantinham-se unidas no objetivo principal, acima da opressão policial, social e midiática. Há um conceito sintético para um dos motivos desta unidade (sem liderança ou organização vertical): consciência de classe. Ao se reconhecerem como classe estudantil, os alunos mantiveram a unidade (e, consequentemente, o movimento foi muito bem sucedido).


O Dandarismo

O documentário se propõe (até pelo nome) a explorar a participação feminina nesse movimento pela educação. E elas vem com força, mostrando que não tem nenhum “sexo frágil”, colocando o ideário igualitário entre sexos nas organizações escolares. Ele também olha para o ensino e vê a falta de personagens negras nos livros de história. Não falta herói, falta interesse.

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A polícia repreende movimento pela educação (fala muito sobre o país em que vivemos).

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Secundarista negra tomando voz de protesto em bloqueio de via, cena extremamente dandarista.

A erudição do movimento (mais um ponto desqualificando-o de estudantes sem o que fazer) vem quando ele põe em pauta nomes e conhecimentos até então escondidos. Entre eles, um muito curioso, interessante e importante: Dandara dos Palmares.
A personalidade cai como uma luva ao olhar o documentário. Apesar da dúvida de sua existência (como coloca a análise de Nei Lopes, com base em análises etnográficas, históricas e etc.), há a certeza da grandiosidade de seu nome e a falta de interesse do Estado. As lendas de Dandara são importantes por esta não seguir os padrões impostos até hoje, por sua voracidade por luta, amor à liberdade e coragem (reza a lenda de que se matou após ser presa, com pavor de ser escrava). Sua força está presente em todas as meninas de luta, inclusive na opressão policial.


Black blocs juvenis? Claro que não

Nas gravações, a violência policial é constante. São mostradas desde agressões físicas, psicológicas até bombas. Em estudantes se manifestando. Não há argumento a favor da polícia válido.
“Os policiais estavam defendendo a própria integridade”.

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Cena clássica: estudante em viatura (por querer estudar).

Contra um monte de adolescentes (em menor número) com carteiras escolares e cartazes? Desde quando secundaristas fazem parte (sem crítica ao grupo) dos black blocs?
“Eles bloquearam a rua, estavam atrapalhando o trânsito.”
Diálogo é o caminho para liberar a via. Não porrete, gás lacrimogênio (estragado, por acaso), bala de borracha.
Ainda pode ser feita a analogia das ocupações terem influência anarquista. Do ponto de vista autogestionário e luta por horizontalidade de decisões, é plausível. Dentro das escolas é outra história. Julia Durques diz que houve a ascendência de lideranças e o cooperativismo era amiúde falho, causando desentendimento (mesmo com uma parte dos estudantes se mostrando apoiadores do Anarquismo).
Como tudo no documentário, LCUM! mostrou a maneira com que o Estado trata movimentos sociais, pacíficos ou violentos: reprimindo.


A manifestação juvenil é de suma importância.
O atual movimento de ocupação por todo o Brasil vem das Meninas de Luta, e conhecer a história delas é essêncial para entender o maior movimento social dos últimos tempos no Brasil, e LCUM! é excelente para o conhecimento.
Espero que tenham curtido essa análise, esperamos trazer novidades sempre para o blog.
Clique aqui para ir ao documentário

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Um vargas diferente?

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Leitor, abaixe suas armas por somente um momento. Para ler esse texto, seria extremamente interessante se você esquecesse sua Vontade Geral iluminista, misticismo hegeliano de nação, marxismo convicto. O Brasil demanda um pouco de realismo nesse momento, por parte de todos.
É inegável a tendência global da chamada “guinada à direita”. João Dória em São Paulo, Crivella no Rio. Macri, Brexit e Trump… a lista é gigante. Não tem mais como dizer o clichê do brasileiro não saber votar. Nessa mentalidade, o mundo não sabe votar, visão antidemocrática. A questão é: por que essa ascensão está acontecendo? O que o retrocesso social de Trump tem de atraente em comum a Crivella e Brexit?
Iniciemos com uma pequena análise da tal direita em ascensão. Seria o conservadorismo? Não, Dória não mexe em valores sociais (como Crivella e Trump), nem Macri. Imigração? É um problema grande somente aos olhos do hemisfério Norte. Neoliberalismo? Com um protecionismo proposto pelo (futuro) presidente americano e propostas contra globalização da saída britânica da UE, fica óbvio o não.
Não há fruto nenhum (como mostrado acima) na observação das propostas, pois são contraditórias entre si e específicas para cada situação. Mas e o povo? Será que há semelhança entre americanos, britânicos, argentinos e brasileiros?
A resposta é sim. A periferia paulista, o centro estadunidense, as cidades interioranas inglesas (para não falar também periféricas, comparadas à Londres) e o povo argentino tem um sentimento de insatisfação.
A economia americana melhora, mas duas coisas continuam ruins para a classe média americana, uma que incomoda e outra que deveria incomodar: a renda e a escola, respectivamente. A crise foi superada, mas os salários não compram o mesmo de antes. O Bilionário eleito mostrou ao povo medidas estúpidas “funcionais”. A falta de escolaridade jogou a favor do falso discurso, e o incômodo inexistente com a educação ridiculamente simplista para visão de mundo- objeto a não ser discutido nesse texto, por sua natureza filosófica (“como as coisas deveriam ser…” mas não são)- mostrou-se aliada fiel da falsa economia “trumpniana”. Colocar um inimigo comum causador dos males é uma maneira eficiente de convencer o povo americano, estratégia usada no macartismo, na caça aos comunistas, e agora (possivelmente) haja a perseguição aos imigrantes.
Imigração é tema comum ao Brexit, assim como as medidas falsas. O inglês da cidade grande votou como cidadão do mundo, o do interior, cidadão inglês. Enquanto Londres sabia que a economia, do jeito que ficaria com a saída da UE, não empregaria (ou empregará) a mão de obra penalizada pelas imigrações fortes. Também sabia que o dinheiro dado ao banco comum europeu era ínfimo comparado à quantia gerada pelo comércio com o resto da Europa. A oposição vociferou informações incompletas, e estas foram agarradas pelo povo, e a votação saiu como saiu.
O povo tem baixa escolaridade e tendeu a votar em quem deu soluções para a sociedade, posto antes ocupado pela esquerda. No Brasil, na prática, a esquerda foi mal representada pelo PT durante muito tempo. É de se esperar, portanto, uma quantidade estrondosa de votos no Haddad nas periferias de São Paulo, certo? Certo?
Errado. Pesquisas mostraram vitória majoritária de João Dória em São Paulo, em quase todos os colégios eleitorais. Isso reafirma o supracitado. Não se quer saber da origem da fortuna do prefeito eleito, mas de suas propostas para ajudar o povo, sejam estas propostas de caráter esquerdista (economicamente) ou Neoliberal. Não há interesse em ideologia, mas em propostas.
Qual a lição tirada de tudo isso? A classe intelectual, como disse Pondé, se fechou e, discussões ideológicas pouco interessantes à sociedade real, pois esta vê resultado, não caminho.
A direita vai subir ao poder no Brasil em 2018. Ponto principal é: qual direita é boa no governo? Caso a esquerda não se organize em torno de um candidato de centro-direita, com propostas para o social (além do caráter provavelmente neoliberal), subirá um radical conservador, como se deu nos EUA, e teremos 4 anos de xenofobia, homofobia e  machismo governando. Os momentos políticos recentes demonstraram isso: só gritar “não vai ter golpe” não adiantou nada, e se foi ou não, ficará a cargo da história decidir. Esperar que Brasília não seja presidida pela direita é apostar contra a tendência mundial.
A diferença vai ser: teremos um autoritário preconceituoso ou uma figura dialogável?

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O ciclo racista da educação privada- Mais do Mesmo

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Negros representam 54% da população, mas representam apenas 33,3% das matrículas em escolas particulares. Esse número muda para as públicas, que são 56,4%, mas a taxa de analfabetismo, para negros é de 11,2%, mais que o dobro que para brancos, 5,2 %. Esses dados só servem para confirmar uma verdade tão óbvia para todos: há uma diferença discrepante entre negros e brancos na sociedade brasileira. Por que isso? Seria uma diferença social importantíssima.
Pode-se notar um ciclo vicioso nesse tema; de acordo com o IBGE, brasileiros com 12 anos (ou mais) de estudo ganhavam 3,8 vezes a mais em cima dos que estudaram até 4 anos. Problema: 63% do trabalho infantil é negro. Como uma pessoa pode ter uma 12 anos de estudo se começa a trabalhar na idade de estudo? Resultado: esse jovem não vai completar 12 anos de estudo e ter uma renda suficiente para pagar uma escola particular, mandando o filho para uma escola pública.
De acordo com Marcelo Knobel, ex-reitor de graduação da Universidade Estadual de Campinas, a maioria dos estudantes que cursam o ensino médio público não considera ingressar em universidades públicas. Ora, se a renda não paga uma escola privada, não paga um ensino superior privado (mais caro ainda). Só há duas opções: ingressar no mercado de trabalho sem ensino superior ou ingressar com o intuito de pagar a faculdade. Mais um problema, 75% da PEI (de acordo com o senso IBGE de 96) é de pessoas sem ensino superior, tendencia que se fez verdadeira nos anos subsequentes.
O que mostrar com todos esses dados? Mostrar que o problema da quantidade inferior de negros em escolas particulares é um problema social grave, que, se não receber atenção, nunca será resolvido por entrar em um ciclo vicioso, conforme mostrado acima. Quais seriam as possíveis soluções? A melhora do ensino público de base seria um começo, uma medida a longo prazo desejável, e a expansão do ensino superior particular (sem afetar sua qualidade, como aconteceu na massificação do ensino fundamental público).

Fontes:
IBGE
Estadão
FNPETI
Marcelo Knobel- Revista Ensino Superior ( Unicamp)
R7
UFCG
Brasil Debate
UOL

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