Terra da Garoa

Hoje choveu garoa na cidade de São Paulo e, meu amor, senti que a cidade voltou ao seu natural de tristeza que não te vi.

Fazia tempo que a metrópole não se rendia à moda antiga, deixando (por uma tarde) de lado as tempestades ou secas modernas.

Quando senti o sereno no rosto, veio calma advinda de um outro tipo de nostalgia. Era saudade. De uma neblina fraca, mas atrapalhando o olhar, comparado com a visão, de uma rotina que, apesar de nunca tida, eu abandonaria com você.

O amor que tenho por você é semelhante ao amor a deus; acredita-se na existência e defende-se com tudo algo que, pela falta de matéria, é pouco mais que (ou somente) uma idéia. O amor que espero de ti é como o temor da morte; imponente, algo só pensado quando se chega perto. Quero que sejas minha viúva, sem morte ou casamento, e, olhando essa garoa caindo do céu paulista, veja nela as lágrimas, não choradas pela minha não-morte, e o não-luto seja eterno. As lágrimas que espero de ti são como flocos de gelo: frios, escondidos quando sós e claros na abundância. Que venham numa mudança brusca de calor em ti e, por um instante, percebas a falta que lhe faz meu calor.

Choveu hoje e, ao fechar um pouco os olhos para ver melhor, decidi tirar o capuz e sentir a água caindo.

Lembrei de como contei da natureza mágica da chuva, como aparecia nos meus maus momentos e lembranças. Sentindo as gotículas na nuca, tentei buscar em mim o ruim ativador da chuva e vi como sentia sua falta, mesmo te vendo todo dia (quase), pelo fato (em pouco tempo) não mais lhe ver. Não te peço para esperar, meu amor.

Só lhe peço para, quando São Paulo resolver garoar, lembrar-se de mim.

L.Giannoni

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